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Pré-Eclâmpsia: destaques

31 Janeiro 2025

A PE é umas das complicações mais graves da gestação e uma das principais causas de morbimortalidade materno-fetal. Globalmente, estima-se que 4 milhões de mulheres sejam diagnosticadas anualmente, resultando em mais de 70.000 mortes maternas e 500.000 mortes fetais. 

Por este motivo, o rastreio é fundamental para identificar as gestantes com risco de desenvolver PE, permitindo iniciar a profilaxia no momento certo e reduzir o risco de complicações.

 O que é a Pré-Eclâmpsia? 

A PE é uma complicação que se manifesta após a 20ª semana de gestação. Caracteriza-se pela presença de hipertensão arterial (pressão arterial sistólica ≥140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥90 mmHg), em 2 medições separadas por 4h, em mulheres previamente normotensas, associada a pelo menos um dos seguintes sinais: proteinúria, disfunção orgânica materna ou comprometimento da função uteroplacentária. 

Embora a sua etiologia não seja completamente conhecida, acredita-se que esteja relacionada com a malformação de vasos sanguíneos da placenta, resultando numa perfusão inadequada e redução do fluxo sanguíneo para o útero e outros órgãos da mãe. 

Quais são os Fatores de Risco?

Existem vários fatores que aumentam o risco de desenvolver PE, contudo, de forma individual, nenhum destes fatores é capaz de prever o risco. Estes dividem-se em 2 grupos:

Fatores de risco moderado:

  • Idade materna: se for superior a 40 anos ou inferior a 18 anos;
  •   Primeira gestação;
  •   Intervalo entre gestações ≥ 10 anos;
  • Obesidade (IMC<35kg/ m2);
  • Histórico familiar de pré-eclâmpsia;
  • Gestação múltipla.

Fatores de risco elevado:

  • Pré-eclâmpsia em gestação anterior;
  • Gestação múltipla;
  • Patologias crónicas preexistentes: doença renal crónica, hipertensão crónica, diabetes, Mellitus ou patologias autoimunes como Lupus Eritematoso Sistémico;

Qual a sua Fisiopatologia?

A fisiopatologia da PE ainda não está completamente esclarecida, mas a teoria mais amplamente aceite aponta para a disfunção placentária como a principal causa, desencadeada pelo stress do sinciciotrofoblasto. De forma geral, acredita-se que fatores genéticos e imunológicos, juntamente com a invasão inadequada do trofoblasto, alterem o remodeling das artérias uterinas, resultando numa placentação anómala, comprometendo a perfusão placentária. Esse stress no sinciciotrofoblasto induz a liberação de citocinas pró-inflamatórias, espécies reativas de oxigênio e agentes anti-angiogénicos na circulação materna, o que contribui para a disfunção endotelial sistémica e uma resposta inflamatória generalizada, prejudicando a perfusão uteroplacentária.

Como resultado, surge hipertensão arterial, edemas, insuficiência renal  e hepática, coagulopatia e danos nas células endoteliais, que podem evoluir para complicações graves. 

Quais são os Sinais e Sintomas?

A apresentação clínica da PE pode ser bastante heterogénea, desde formas leves até quadros mais graves. Na maioria dos casos manifesta-se como: 

  • Hipertensão (pressão arterial igual ou superior a 140/90 mmHg);
  • Proteinúria;
  • Oligoanúria;
  • Edemas: especialmente nas mãos, pés e face;
  • Cefaleia intensa;
  • Alteração da visão: visão turva;
  • Náuseas ou vómitos;
  • Dor abdominal superior.

É fundamental que, perante estes sintomas, a gestante procure avaliação médica. A PE pode evoluir rapidamente para complicações graves, como a eclâmpsia, edema agudo do pulmão e lesão renal aguda, causas de morbimortalidade materno-fetal. 

Classificação da pré-eclâmpsia

De acordo com a idade gestacional no momento da apresentação clínica, pode ser classificada em três categorias: 

  • pré-termo, quando o parto ocorre antes das 37 semanas de gestação;
  • termo, quando o parto acontece a partir das 37 semanas;
  • pós-parto, caso os sintomas se manifestem após o parto.

Com base em critérios de gravidade, a PE pode ser classificada como:

  •  sem critérios de gravidade (moderada): pressão arterial >140/90 mmHg e pelo menos um dos seguintes: proteinúria ≥0.3 g/dia (em urina de 24horas) ou rácio proteína/creatinina ≥30 mg/mmol ou rácio albumina/creatinina ≥8 mg/mmol;
  • com critérios de gravidade (severa): pressão arterial >160/110 mmHg e pelo menos um dos seguintes: hemólise, elevação das enzimas hepáticas, trombocitopenia (síndrome de HELLP), clínica refratária à terapêutica, restrição do crescimento fetal (<p10).

 Rastreio pré-eclâmpsia

O rastreio realiza-se no 1ºTrimestre da gravidez e avalia o risco da gestante desenvolver PE até às 34 semanas. Este screening combina vários fatores para o cálculo do risco, nomeadamente: 

  • marcadores bioquímicos: Fator de crescimento placentário (PlGF-1), utilizando uma mostra colhida entre as semanas 11 e 13 de gestação;
  • dados maternos: idade, paridade, antecedentes pessoais ou familiares de PE, tabagismo, pressões arteriais médias (PAM);
  • dados ecográficos: doppler das artérias uterinas – Índice de pulsatilidade das artérias uterinas (IPAU).

Devido ao facto de se incluírem todos estes fatores para o cálculo do risco, a taxa de deteção de PE é de 90%. 

Estratificação de Risco

A estratificação de risco visa identificar gestantes com maior probabilidade de desenvolver a condição, permitindo intervenções preventivas. Assim, as gestantes com risco calculado superior a 1:100 iniciam profilaxia, idealmente a partir da 16ª semana, com ácido acetilsalicílico 150 mg id, até às 35 semanas. 

Qual o tratamento?

O tratamento realiza-se em ambiente hospitalar e varia consoante a gravidade e o tempo de gestação. Os casos que não apresentam critérios de gravidade são tratados com nifedipina ou α -metildopa. Por outro lado, nos casos graves é iniciado labetalol e sulfato de magnésio para prevenção de convulsões (que se mantém até 24 horas pós-parto). De acordo com o tempo de gestação pode ser necessário realizar o parto para evitar complicações mais graves, como a eclâmpsia ou a síndrome HELLP. 

Qual o prognóstico?

Com o tratamento adequado, o prognóstico da PE pode ser bastante favorável. No entanto, na ausência de intervenção célere, a condição pode evoluir para eclâmpsia, representando um risco significativo para a saúde materno-fetal. O acompanhamento pós-parto é essencial, uma vez que os sintomas podem persistir e exigir cuidados médicos.

A pré-eclâmpsia exige vigilância constante durante a gestação. Identificar fatores de risco e sintomas ajuda a receber o tratamento adequado a tempo, prevenindo complicações mais graves. Por isso, é fundamental que todas as grávidas tenham cuidados pré-natais e discutam suas preocupações com os médicos. A informação e a prevenção são essenciais para uma gestação segura e saudável.