A Legionella é uma bactéria habitualmente encontrada em origens de água ambiental, como rios, lagos e reservatórios, que pode causar uma doença grave conhecida como a Doença dos Legionários e Febre do Pontiac.
Neste artigo, vamos explorar o que é a Legionella, como é transmitida e as medidas que podem ser tomadas para evitar a infeção.
O que é a Legionella?
A Legionella é uma bactéria Gram-negativa do género Legionella, que engloba várias espécies.
Das 61 espécies diferentes de Legionella descritas, 28 foram associadas a doenças humanas. A Legionella pneumophila é a espécie responsável por quase todos os casos relatados de doença. A Legionella pneumophila do serogrupo 1 é a encontrada na maioria dos pacientes com Doença dos Legionários na Europa e nos Estados Unidos.
Embora Legionella pneumophila cause a maioria dos casos de Doença dos Legionários, outras espécies também podem causar a doença, particularmente nos casos adquiridos em meio hospitalar. Das infeções relatadas como causadas por Legionella não pneumophila, as mais habituais são Legionella micdadei, Legionella bozemanii, Legionella dumoffii e Legionella longbeachae.
Fatores que favorecem o desenvolvimento de Legionella
Embora presente naturalmente em ambientes aquáticos, como rios, lagos e reservatórios de água, a Legionella encontra-se geralmente em quantidades insuficientes para causar infeção.
A partir das fontes naturais pode propagar-se para os reservatórios de água tratada, canalizações, sistemas de água em edifícios, entre outros, onde se pode reproduzir e, aí, causar potencial risco para a saúde pública.
Os fatores que favorecem o desenvolvimento de Legionella são:
- Temperatura da água entre 20º C e 50º C, sendo a ótima entre os 25º C – 42º C
- pH entre 5 e 8
- Humidade relativa superior a 60%
- Zonas de reduzida circulação de água (reservatórios de água, torres de arrefecimento, tubagens de redes prediais, pontos de extremidade das redes pouco utilizadas, etc)
- Presença de outros organismos (por exemplo, algas, amebas, protozoários) em águas não tratadas ou com tratamento deficiente
- Existência de biofilme nas superfícies em contacto com a água
- Processos de corrosão ou incrustação
A bactéria, particularmente a Legionella pneumophila, não parece multiplicar-se a temperaturas inferiores a 20º C e superiores a 60º C. No entanto, pode permanecer latente em águas frias e multiplicar-se quando estas chegam a temperaturas que favorecem o crescimento da bactéria.
Para a sobrevivência desta bactéria, no meio aquático, é necessário existir outras condições favoráveis, como uma fonte de nutrientes. No caso da Legionella estes nutrientes são obtidos de organismos usualmente encontrados nos sistemas de água, como algas, amebas e outras bactérias, sendo também possível encontrar a bactéria dentro de outros microrganismos, nomeadamente protozoários.
Esta capacidade de alojamento num outro microrganismo e de se proliferar nos mesmos, constitui uma das mais importantes formas de resistência, em paralelo com os biofilmes — comunidades de bactérias envoltas por substâncias, principalmente açúcares, produzidas pelas próprias bactérias, que lhes conferem proteção contra diversos tipos de agressões.
A presença de sedimentos, lama, ferrugem e outros materiais dentro do sistema, associados a biofilmes, desempenham um papel determinante por abrigarem e fornecerem condições favoráveis ao desenvolvimento de Legionella. Estas condições são favorecidas quando os sistemas de água não recebem tratamento adequado ou ficam estagnados, levando a que possa existir um risco de proliferação da bactéria.
Como se transmite a Legionella?
A transmissão da Legionella ocorre principalmente através da inalação de aerossóis, pequenas gotículas de água, que contêm a bactéria. Esta transmissão ocorre em locais onde existe água contaminada dispersa sob a forma de aerossóis, essencialmente através torres de refrigeração, redes prediais, nomeadamente os chuveiros, banheiras de hidromassagem, piscinas e jacuzzis, fontes ornamentais, sistemas de ar condicionado, etc.
Quanto menores as gotículas, maior é a probabilidade de causar infeção.
É importante ressaltar que a transmissão não ocorre de pessoa para pessoa, apenas pela inalação de gotículas contaminadas.
Sintomas, diagnóstico e tratamento de Legionella
A Legionella pode provocar Doença dos Legionários e Febre do Pontiac, sendo a primeira a responsável pelos surtos mais divulgados na comunicação social.
A febre do Pontiac é uma doença não pneumónica. Tem um período de incubação de 12 a 48 horas, e apresenta-se como uma doença semelhante à gripe com duração de alguns dias.
A Doença dos Legionários é uma doença pneumónica que pode ser detetada quer em casos isolados esporádicos, quer em agrupamentos de casos (surtos) com um fator em comum: a mesma fonte de infeção e/ou exposição temporal idêntica. Surtos e casos esporádicos ocorreram repetidamente em edifícios como hotéis, hospitais e, também, em navios de cruzeiro.
Após a infeção através da inalação de aerossóis contaminados, os sintomas geralmente manifestam-se após 2 a 10 dias.
Os principais sinais da Doença dos Legionários incluem: febre alta, tosse, dor no peito, falta de ar, dores musculares e fadiga. Os grupos mais suscetíveis a desenvolver complicações graves são idosos, fumadores e indivíduos com doenças crónicas ou com o sistema imunitário enfraquecido.
A identificação precoce dos sintomas e o tratamento adequado são fundamentais para um prognóstico favorável. No entanto, é importante ressaltar que os sintomas não apresentam caraterísticas clínicas que a distingam de outros tipos de pneumonia. Assim sendo, para obter um diagnóstico, devem ser realizadas mais investigações laboratoriais.
O método de diagnóstico primário, é a deteção de antigénio numa amostra de urina durante a fase aguda da doença, principalmente em infeções causadas por estirpes de Legionella pneumophila do serogrupo 1. Este método de diagnóstico rápido e de baixo custo, tem contribuído para um melhor diagnóstico da Doença dos Legionários desde 1990 e para a redução da mortalidade associada à mesma.
No entanto, obter uma amostra respiratória para cultura continua a ser o método de excelência, dado que permite identificar fontes de infeção através da comparação com estirpes de fontes clínicas e ambientais. Além disso, este método também permite detetar estirpes menos comuns de infeção.
Desta forma, além do diagnóstico por antigénio, é altamente recomendável recolher amostras de expetoração ou lavado bronco alveolar de pacientes com pneumonia, para obter um isolado clínico da cultura. Esta etapa é igualmente importante para identificar o melhor antibiótico a ser administrado dado que as infeções por Legionella não respondem a antibióticos β-lactâmicos, como penicilinas e cefalosporinas. A infeção por Legionella requer um tratamento precoce do espectro adequado de antibióticos que podem penetrar e atuar nas células para aumentar a taxa de sobrevivência do paciente.
Prevenção da Legionella
A prevenção da transmissão envolve medidas de controlo e manutenção adequada de sistemas de água. Estas são algumas recomendações essenciais:
Limpeza e desinfeção – é importante realizar a higienização regular de torres de refrigeração, sistemas de ar condicionado e fontes ornamentais, assim como todos os equipamentos de passagem de vapores.
Tratamento de água – é importante existirem tratamentos químicos adequados e regulares para controlar o crescimento de bactérias em sistemas de água. Para mais informações, o Aqualab tem uma página de sugestões de tratamento de águas.
Boas práticas de higiene – o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) para profissionais que trabalham com sistemas de água é essencial para prevenir a infeção por Legionella.
Monitorização da qualidade da água – é essencial realizar análises periódicas para um acompanhamento regular dos parâmetros de pH, temperatura e cloro residual para garantir a qualidade da água. As análises periódicas à presença de Legionella em sistemas de água é um dos principais métodos de avaliação da eficácia das medidas de prevenção.
A Legionella pode tornar-se uma ameaça para a saúde pública quando não são cumpridos os tratamentos adequados dos reservatórios de água. Conhecer a bactéria, os seus métodos de transmissão e adotar boas práticas de manutenção de sistemas de água são passos essenciais para evitar a sua proliferação.
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