Hiperplasia benigna da próstata (HBP) e carcinoma da próstata (CaP)
Nas últimas décadas, com o aumento da esperança de vida, a incidência das doenças da próstata tem vindo a aumentar.
Em Portugal o cancro da próstata ocupa o terceiro lugar no ranking das doenças oncológicas e o segundo em taxa de mortalidade a seguir ao tumor do pulmão, sendo responsável por cerca de 1800 mortes por ano, podendo mesmo ser considerado um problema de saúde pública. Estes valores têm com base os resultados do Office for Nacional Statics.
O cancro da próstata é o cancro mais comum que afeta os homens nos países desenvolvidos e aquele sobre o qual, segundo os especialistas, existe menor conhecimento, o que torna o diagnóstico e o tratamento difíceis.
O que é a hiperplasia benigna da próstata (HBP)?
A hiperplasia benigna da próstata é uma das doenças benignas mais comuns nos homens que se caracteriza por um aumento do volume da próstata — uma glândula que se localiza por baixo da bexiga e desempenha funções importantes na sexualidade e, sobretudo, na fertilidade masculina.
Quando a próstata aumenta de volume, pode estreitar gradualmente a uretra e dificultar o fluxo de urina. Como resultado, os músculos da bexiga tornam-se mais espessos e fortes, levando a queixas de frequência urinária e dificuldade em urinar e, se não tratada, pode levar a retenção urinária e necessidade de colocar uma algália para o seu esvaziamento.
A HBP aumenta também o risco de infeções da bexiga, que podem ser identificadas através de sintomas como sensação de ardor durante a micção e febre, o risco de formação de cálculos urinários e, em estados de progressão avançados, pode mesmo causar lesões renais.
As causas para o aumento do tamanho da próstata não se encontram totalmente esclarecidas, mas parecem resultar da estimulação da proliferação das células prostáticas pela ação das hormonas sexuais, tais como a testosterona. A existência de uma história familiar é também um fator de risco acrescido.
No entanto, o fator mais preponderante no risco de desenvolver HBP parece ser mesmo a idade. A hiperplasia benigna da próstata afeta cerca de 40% dos homens aos 50 anos e cerca de 90% aos 90 anos. É uma doença progressiva, com um impacto significativo na qualidade de vida.
Prevalência de fatores e risco
- As dietas com elevado teor de gorduras saturadas e zinco pode aumentar o risco;
- A idade é um fator comum no aumento da glândula, em particular, após os 50 anos;
- Se existe algum familiar com história de HBP, a hipótese do desenvolvimento da patologia pode aumentar em até três vezes;
- Histórico de doenças cardiovasculares prévias, obesidade e diabetes também podem levar ao aumento da glândula.
Sintomas de hiperplasia benigna da próstata (HBP)
- Dificuldade em iniciar a micção;
- Micção interrompida e/ou prolongada;
- Micção com esforço abdominal;
- Jato urinário fraco;
- Gotejamento pós-urinário;
- Micções mais frequentes, especialmente durante a noite;
- Sensação de urgência miccional com pequenas perdas involuntárias de urina.
O que é o carcinoma da próstata (CaP) ou cancro da próstata?
O cancro da próstata é uma das neoplasias mais frequentes no homem, sendo a segunda causa de morte por cancro na população masculina.
Este tipo de doença manifesta-se e evolui de forma silenciosa. Ao contrário da hiperplasia benigna, que limita mais frequentemente a saída de urina da bexiga e origina sintomas, o cancro da próstata é geralmente assintomático. Na maioria dos casos, os doentes não têm qualquer sintoma durante a progressão do tumor e as queixas surgem já em estados avançados da doença.
Ao contrário de outros cancros que apresentam picos de incidência, o carcinoma da próstata aumenta uniforme e constantemente com a idade. O risco de um homem de 50 anos padecer de cancro latente é de 40%, o risco para cancro clinicamente aparente é de 9,5% e o risco de morte por cancro da próstata é de 2,9%.
Prevalência de fatores e risco
São vários os fatores de risco que têm sido referidos para justificar a diferente incidência a nível clínico do carcinoma da próstata, nomeadamente:
- As dietas com elevado teor de gordura saturada e carnes vermelhas;
- Deficiência de alguns oligoelemetos como o selénio, a vitamina E e os isoflavonóides (presentes na soja e legumes);
- Contaminantes ambientais (cádmio);
- A história familiar de CaP também representa um risco acrescido, assim como a idade de aparecimento da doença no familiar com CaP.
Se a idade de aparecimento é aos 70 anos, o risco relativo aumenta 4 vezes; se a doença começa aos 60 anos, o risco multiplica por 5; e se se verifica aos 50 anos, o risco relativo é 7 vezes maior. Uma alimentação rica em gorduras duplica o risco relativo de CaP. A exposição ao cádmio, presente no tabaco, baterias alcalinas e soldaduras, aumenta igualmente o risco.
Diagnóstico precoce de HPB e Carcinoma da próstata
O diagnóstico realizado numa primeira abordagem, para avaliação das doenças da próstata, inclui: o exame físico geral, o toque retal, a medição dos níveis de séricos de antigénio específico da próstata (PSA) e de exames de imagem (ecografia prostática transretal ou ressonância magnética prostática multiparamétrica)
Em conjunto, estes exames conseguem assegurar um diagnóstico mais eficaz das patologias associadas à próstata.
Doseamento do Antigénio Específico da Próstata (PSA)
A determinação do valor do PSA sérico revolucionou o diagnóstico do Carcinoma da Próstata.
O teste de PSA total é um exame de sangue que mede a quantidade de antigénio específico da próstata (PSA) no sangue. Apesar do PSA ser uma proteína produzida quase exclusivamente por células do epitélio da próstata, em condições de aumento do tamanho da glândula e dano prostático o PSA é libertado em maiores concentrações para a circulação, por isso, a sua quantidade vai aumentando ao longo da idade e com aumento da próstata.
O PSA deve ser considerado órgão-específico, mas não carcimona-específico, pois valores aumentados podem estar associados a carcinoma da próstata, mas também a situações benignas.
Os níveis convencionais de PSA total oscilam entre 0 e 4 ng/mL.
Como referido anteriormente, um nível elevado de PSA pode sugerir que existe um problema na próstata, mas que não é necessariamente causado por cancro. Um nível elevado de PSA, pode indicar:
No entanto, existem algumas outras condições que também podem causar um aumento dos níveis de PSA:
- Infeções urinárias;
- Exercício intenso;
- Ejaculação;
- Sexo anal e estimulação da próstata;
- Biópsia da próstata;
- Alguns medicamentos;
- Outros testes ou cirurgia à bexiga, ou à próstata;
- Cateteres urinários.
O doseamento do PSA sérico é de extrema utilidade na avaliação da extensão da doença nos casos de CaP diagnosticado e para avaliação da resposta ao tratamento e monitorização de doentes com CaP.
Uma vez que existem várias condições que podem originar um aumento de PSA, além do carcinoma da próstata, o rastreio oportunístico através do doseamento do PSA total deve ser uma opção ponderada e discutida com o seu médico assistente. Também deverá ser realizado consoante os resultados do seu exame físico e historial clínico e familiar.
É, de igual forma, de elevada importância estar informado sobre os seus benefício, riscos e a possibilidade de sobrediagnóstico e tratamento, pelo que recomendamos que discuta todas as possibilidades com um profissional de saúde.
Por outro lado, o cancro prostático constitui uma patologia muito frequente, mas igualmente oculta e que não apresenta qualquer sintoma até fases avançadas da doença, em muitos casos, pode até não apresentar nenhuma manifestação clínica durante a vida do homem.
De facto, estudos em autópsias revelaram que, aproximadamente, um terço dos homens com idade compreendida entre os 40 e os 60 anos tem um cancro prostático (histologicamente evidente e clinicamente sem expressão), sendo que esse valor se eleva até aos três quartos nos homens com idade igual ou superior a 75 anos.
Para um aumento do risco/benefício do rastreio de CaP através do PSA total existem outros marcadores de diagnóstico úteis para melhorar a especificidade do PSA na deteção precoce do CaP. Alguns destes marcadores são:
- Valores séricos do PSA livre, em específico, a relação entre PSA livre/PSA total que é utilizada para apoiar as decisões de biópsia quando o valor do PSA total se situa entre 4 – 10 ng/mL, com valores baixos de rácio PSA livre/PSA total a favorecer um aumento de risco de CaP;
- Isoformas de PSA, como o proPSA (p2PSA) que, apresenta melhor desempenho que o PSA total e o PSA livre para CaP;
- Prostate health index ou índice de saúde prostático (phi), uma fórmula que combina as 3 formas de PSA (PSA total, PSA livre e proPSA) para obter o nível de estratificação de risco de CaP;
- Velocidade do PSA favorável a CaP para incrementos acima de 0,75 ng/ml/ano;
- Densidade do PSA (valor do PSA/volume prostático medido por TRUS), favorável a CaP para valores acima de 0,12 ng/ml/cc;
- Cutt-off de PSA total ajustado à idade.
Os doseamentos de PSA ou das suas isoformas não requerem jejum para a realização da colheita.
A amostra não deve ser colhida após a realização de qualquer tipo de manipulação prostática, em específico:
- Toque retal (DRE);
- Massagem prostática;
- Ultrassom transretal (TRUS);
- Biópsia prostática.
Qualquer uma das manipulações acima descritas aumentam o valor de PSA transitoriamente.
Para além dos exames de imagem e de doseamento de PSA, o toque retal permite a avaliação da região periférica da glândula prostática, mais frequentemente afetada por neoplasia maligna. No entanto, o diagnóstico definitivo de CaP depende da realização de biópsia prostática transretal ou transperineal.
O diagnóstico precoce mediante avaliação médica e realização de testes laboratoriais, permitem uma intervenção terapêutica antecipada e, por isso, maior eficácia. Para qualquer dúvida ou questão recomendamos que entre em contacto com o seu médico assistente.
No grupo Aqualab, vai poder contar sempre com profissionais especializados, que podem aconselhá-lo e orientá-lo de forma consciente no diagnóstico deste tipo de patologias.
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