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Calprotectina Fecal

30 Janeiro 2020

Cerca de 2 milhões de pessoas na Europa sofrem de Doenças Inflamatórias Intestinais (DII). Estas compreendem um grupo específico de doenças, no qual se inclui a doença de Crohn e a colite ulcerosa, patologias crónicas e incuráveis do tracto intestinal, marcadas por episódios recorrentes de inflamação do tracto gastrointestinal.

Os sintomas são angustiantes, embaraçosos e debilitantes, sendo um indicador importante de actividade da doença, mas têm a dificuldade da subjectividade e podem parecer-se muito com outras condições de origem funcional, como a Síndrome do Intestino Irritável, o que torna difícil um diagnóstico correcto.

A endoscopia com biópsia é o exame por excelência, «o golden standard» da monitorização da Inflamação Intestinal. No entanto, foi recentemente introduzido na Europa um novo marcador: simples, rápido, sensível, específico, acessível e não-invasivo para a deteção e acompanhamento da DII. Trata-se da Calprotectina, uma proteína amplamente distribuída no organismo, transportadora de cálcio e zinco, pertencente ao grupo da S100 e derivada predominantemente dos neutrófilos. Níveis elevados de Calprotectina têm sido constantemente detectados nas fezes de pacientes com DII ativa.

 A Calprotectina é uma proteína de 36 kDa abundante no citoplasma dos neutrófilos e, em menor quantidade, também nos monócitos e macofagos reativos. As funções conhecidas da Calprotectina estão associadas aos processo de defesa através da ação do zinco (apresenta atividade antibacteriana e antifúngica). Pode ser detetada em praticamente todos os líquidos biológicos e a sua concentração está diretamente correlacionada com o grau de inflamação na amostra. Os seus níveis plasmáticos elevam-se 5 a 40 vezes na presença de processos infecciosos e inflamatórios. Em amostras de fezes, a Calprotectina apresenta-se como um bom marcador biológico por permanecer muito estável até sete dias à temperatura ambiente e resistente à degradação proteolítica das fezes.

Na inflamação intestinal, perde-se a função barreira da mucosa intestinal e ocorre a migração dos granulócitos neutrófilos através da parede para o lúmen intestinal, levando à elevação da concentração de Calprotectina nas fezes. O nível de Calprotectina fecal correlaciona-se diretamente com a quantidade de granulócitos neutrófilos e outras células de defesa no lúmen intestinal.

Como tal, as concentrações de Calprotectina encontram-se elevadas em Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) e também, em menor proporção noutras situações como neoplasias e pólipos. Os níveis de Calprotectina nas fezes são aproximadamente 6 vezes mais elevados do que os encontrados no sangue, o que a torna um bom marcador de inflamação intestinal.

Sensibilidade e Especificidade

A Calprotectina fecal é um marcador muito sensível e específico da inflamação no tracto intestinal: sendo um teste de primeira linha, um resultado negativo pode descartar um processo inflamatório, enquanto que um resultado positivo pode sugerir a endoscopia como prioritária para o diagnóstico. Quase 98% dos doentes com doenças inflamatórias intestinais como a doença de Crohn ou a colite ulcerosa têm um nível mais elevado de calprotectina fecal. A especificidade do teste é de quase 90%.

Actividade da Doença

A calprotectina fecal é um marcador eficiente para avaliar a eficácia terapêutica e cicatrização da mucosa e a sua concentração apresenta uma boa correlação com os achados endoscópicos e histológicos em doenças inflamatórias intestinais. Em estudos recentes, foi demonstrado que a concentração da calprotectina fecal é capaz de prever uma recaída na doença de Crohn e da colite ulcerosa.

Quando é que a medição é recomendada?

  • Suspeita de doenças inflamatórias intestinais (DII), como a doença de Crohn e a colite ulcerosa;
  • Diferenciação da síndrome do intestino irritável de outras doenças funcionais do intestino;
  • Monitorização das DII.

Em resumo, a Calprotectina fecal apresenta:

  • Capacidade de distinguir Doença Inflamatória Intestinal (DII) do Síndrome do Intestino Irritável (SII);
  • Alto valor preditivo negativo;
  • Boa correlação proporcional ao grau de inflamação da mucosa intestinal;
  • Redução acentuada quando a resposta ao tratamento é boa, sendo por isso um indicador fiável na avaliação da eficácia do tratamento;
  • É também um ótimo marcador de recidivas, dando uma indicação importante para adaptar o tratamento dos doentes, aliviando a intensidade de possíveis recaídas.